sexta-feira, dezembro 12, 2008

Ontem

Estou cansado, tenho a cabeça pesada e uma leve enxaqueca de ter dormido tão pouco.

Estou cansado e não tem nada a ver contigo, mal por mal antes tive a ver comigo, mas é apenas por causa da viagem. Estou apenas cansado.


Finalmente chego. Saio na santa estação, beatificada como de um Apolo feminino se tratasse.
E lá estão, o vendedor de castanhas absorto na leitura do seu jornal gratuito, o indiano com a sua banca cheia de produtos "made in China" & companhia, o vendedor da taluda de Natal que chama a atenção dos que passam para o grande prémio com um tom enfastiado e monotono e os taxistas, que discutem se este governo deve cair sobre um novo tipo de 25 de Abril, ou não, que isso dá muito trabalho e nós gostamos das coisas como estão...

Lisboa, centro de um 5º Império desmembrado e vendido a ingleses, espanhóis e aos de mais que generoso capital possuírem, porque os nossos administrativos só sabem levar bancos à falência ou subsidia-los.

Aproximo-me da Baixa e mesmo antes de ver as primeiras lojas, já nem pelas dezenas me chegam os dedos para contar a quantidade de pessoas que passaram por mim com aqueles malditos sacos de prendas, formatados e normalizados pelas grandes empresas multinacionais de vestuário, tecnologia e afins.
Que o Natal já não é uma festa religiosa, já eu o sei à uns bons anos. Mas agora já nem a família conta, é apenas este sentido vão de satisfazer o nosso desejo materialista, esta vontade de obter e possuir cada vez mais, mais um, mais um bocadinho, só mais um bocadinho,...

Passo o meu tempo entre a FNAC do Chiado e o Bairro Alto, sem comprar nada. Aquele livro espectacular com a obra de Shepard Fairey custar-me-ia os olhos da cara e eu estou demasiado liso para o conseguir mesmo que fosse a metade do preço.
Dou conta da chegada da hora de ponta, seria impossível não dar. A cidade dá mostras da sua vivacidade eléctrica, humana e poluente. Autenticas massas de seres humanos efectuam os mesmíssimos passos como se de um formigueiro se tratasse. Um dia-a-dia sem vida, sem sentimento, que isso só existe quando joga a selecção.

Digo adeus a Lisboa, como se de uma pessoa de idade avançada se tratasse, tenho pena por ela ao mesmo tempo que a invejo. Já viu tanta coisa acontecer, tantos momentos históricos, mas não sabe nem metade do que lhe vai acontecer nos próximos anos. Lisboa sem um rio ao seu lado para o qual olhar, vai ser o vim da cidade.
Mas ainda bem que Lisboa não é a cidade perfeita. Esta sua aura algo negra e suja é um lado de todos nós, se não que de outra forma saberíamos dizer o que é puro e iluminado?

Continuo a dissertar levianamente sobre ela, enquanto me afasto. Sinto-me como que um clandestino transportado por máquinas de uma sociedade supostamente desenvolvida.

Estou cansado, muito cansado.
Adormeço...

(Vou ter frequência de Geometria amanha)

1 comentários:

Anónimo disse...

Mano ta ai um texto deveras elaborado...tens uma q vou.te contar :D


Força nisso Abraço

Pedro